domingo, janeiro 02, 2005
DESVIRTUANDO (di)LEMAS
Decidi prolongar as minhas férias pois tenho andado serenamente feliz e assim quero continuar por mais uns tempos... Mas, como todos os ditados ou frases-chave, este pensamento apenas corresponde à verdade em determinados momentos da vida alternando com fases de maior excitação, menor serenidade ou outras de busca da felicidade por caminhos mais sinuosos. A verdade, meus caros, está apenas em afastar a agonia da angústia e, no meu caso, também impedir a revelação da ansiedade. Em relação a este "centro comunitário de convívio" não consegui mais controlar a ansiedade de cá voltar. Teria preferido que os meus dois colegas aqui já tivessem dedicado algum do seu tempo e da sua veia artística, para depois de comentar os seus textos, publicar novamente os meus diletantes pensamentos. Foi-me impossível...
Milhares de famílias desafiaram o meu autocontrolo ao insistirem insistentemente para que cá voltasse. Correspondi!Aos que confundiram a minha prosa com a de um qualquer homónimo meu (pelos vistos, poeta) devo alertar de que estão enganados. Se esse tal poeta for vivo, certamente estará orgulhoso com a comparação...
Mas em frente.
O Mundo está a mudar, o Mundo está tremendamente diferente de há três semanas atrás! E todos os anos o Mundo muda a uma velocidade arrebatadoramente maior! O meu Mundo também tem mudado, mais lentamente, claro está!
A última grande tragédia da Humanidade, arrepiou em mim sensações tão fortes como as que se me despertaram no memorável 11/9. A contabilidade de vidas humanas perdidas, mais uma vez, não é mais do que a tradução do maior terror pelas nossas almas experimentado! Tagédias vertiginosamente diferentes colidem na pequenez da nossa capacidade mental! E o que é isto? Pra onde vamos? Que "menos" podemos fazer?
Pois limito-me a descrever o que eu vivi no dia 26/12/2004 para "fugir" a estas questões tão simplesmente banais e ao mesmo tempo indecifráveis.
Nesse dia parti de "Jipe", mais dois amigos com um único destino: uma serra qualquer... Logo de manhã, primeira paragem: Gerês. O Minho no seu esplendôr!!! Luvas, gorros e camisolas, em lã, puro artesanto local. Turistas de ocasião falam da neve "Lá pra cima há muita". Continuamos subindo... O Verde da Natureza terrestre e o Branco da Benção dos Céus!Atrapalhadamente tiro as primeiras fotos: Estupidamente acaba a bateria da máquina! frustração. No alto passamos a fronteira, estranha, deserta, cheia de histórias pra contar e sem ninguém que as conte. Assolam-me as primeiras questões sobre a nova sociedade. O Outro lado, admiravelmente mais agreste, feio, despido. Almoço. Regresso á Pátria. Castro Laboreiro- Melgaço. Manto Branco em todo o campo de visão! Espessura: Bem acima do tornozelo! O Aventureiro do condutor leva-nos ás aldeias mais remotas. Novamente questiono coisas tão banais do quotidiano, onde é q esta gente faz compras? O próprio rosto dos locais é diferente. Pastores isolados, carregados de agasalhos, orientam os rebanhos. Quanto mais difícil é o caminho, melhor. Resultado, jipe preso na neve. A minha força em estado bruto, arrasta as rodas de trás. Um com 34 anos, outro com 29, eu com 23. Três putos brincando na neve, guerreando entre si até o frio se tornar insuportável, voz trémula... Mais há frente, o mesmo, e o mesmo, sempre branco. Altamente. Espaçadamente pequenos e belos nevões. Chouriço, presunto, café quente. Descemos a serra: Melgaço, Monção,Felicidade, Arcos de Valdevez,Primeiros relatos da tragédia, Vila Verde, Amares, Porto d'Ave. Home...
Pego a minha afilhada no colo, olho a tv e vejo um homem magro, miserável, arrastando-se num misto de lama e água com um bébé morto no colo. Talvez a mesma idade da minha afilhada: Um ano e três meses. Desligo a televisão, a família protesta e volta a ligar. Beijo a minha afilhada na testa, pouso-a no chão. Saio de casa.
Tudo seria belo se tudo não fosse tão triste.
Que este blog, não cumpra o seu lema!
Que não se alheie do mundo, pois no mundo tudo se pode passar!
Decidi prolongar as minhas férias pois tenho andado serenamente feliz e assim quero continuar por mais uns tempos... Mas, como todos os ditados ou frases-chave, este pensamento apenas corresponde à verdade em determinados momentos da vida alternando com fases de maior excitação, menor serenidade ou outras de busca da felicidade por caminhos mais sinuosos. A verdade, meus caros, está apenas em afastar a agonia da angústia e, no meu caso, também impedir a revelação da ansiedade. Em relação a este "centro comunitário de convívio" não consegui mais controlar a ansiedade de cá voltar. Teria preferido que os meus dois colegas aqui já tivessem dedicado algum do seu tempo e da sua veia artística, para depois de comentar os seus textos, publicar novamente os meus diletantes pensamentos. Foi-me impossível...
Milhares de famílias desafiaram o meu autocontrolo ao insistirem insistentemente para que cá voltasse. Correspondi!Aos que confundiram a minha prosa com a de um qualquer homónimo meu (pelos vistos, poeta) devo alertar de que estão enganados. Se esse tal poeta for vivo, certamente estará orgulhoso com a comparação...
Mas em frente.
O Mundo está a mudar, o Mundo está tremendamente diferente de há três semanas atrás! E todos os anos o Mundo muda a uma velocidade arrebatadoramente maior! O meu Mundo também tem mudado, mais lentamente, claro está!
A última grande tragédia da Humanidade, arrepiou em mim sensações tão fortes como as que se me despertaram no memorável 11/9. A contabilidade de vidas humanas perdidas, mais uma vez, não é mais do que a tradução do maior terror pelas nossas almas experimentado! Tagédias vertiginosamente diferentes colidem na pequenez da nossa capacidade mental! E o que é isto? Pra onde vamos? Que "menos" podemos fazer?
Pois limito-me a descrever o que eu vivi no dia 26/12/2004 para "fugir" a estas questões tão simplesmente banais e ao mesmo tempo indecifráveis.
Nesse dia parti de "Jipe", mais dois amigos com um único destino: uma serra qualquer... Logo de manhã, primeira paragem: Gerês. O Minho no seu esplendôr!!! Luvas, gorros e camisolas, em lã, puro artesanto local. Turistas de ocasião falam da neve "Lá pra cima há muita". Continuamos subindo... O Verde da Natureza terrestre e o Branco da Benção dos Céus!Atrapalhadamente tiro as primeiras fotos: Estupidamente acaba a bateria da máquina! frustração. No alto passamos a fronteira, estranha, deserta, cheia de histórias pra contar e sem ninguém que as conte. Assolam-me as primeiras questões sobre a nova sociedade. O Outro lado, admiravelmente mais agreste, feio, despido. Almoço. Regresso á Pátria. Castro Laboreiro- Melgaço. Manto Branco em todo o campo de visão! Espessura: Bem acima do tornozelo! O Aventureiro do condutor leva-nos ás aldeias mais remotas. Novamente questiono coisas tão banais do quotidiano, onde é q esta gente faz compras? O próprio rosto dos locais é diferente. Pastores isolados, carregados de agasalhos, orientam os rebanhos. Quanto mais difícil é o caminho, melhor. Resultado, jipe preso na neve. A minha força em estado bruto, arrasta as rodas de trás. Um com 34 anos, outro com 29, eu com 23. Três putos brincando na neve, guerreando entre si até o frio se tornar insuportável, voz trémula... Mais há frente, o mesmo, e o mesmo, sempre branco. Altamente. Espaçadamente pequenos e belos nevões. Chouriço, presunto, café quente. Descemos a serra: Melgaço, Monção,Felicidade, Arcos de Valdevez,Primeiros relatos da tragédia, Vila Verde, Amares, Porto d'Ave. Home...
Pego a minha afilhada no colo, olho a tv e vejo um homem magro, miserável, arrastando-se num misto de lama e água com um bébé morto no colo. Talvez a mesma idade da minha afilhada: Um ano e três meses. Desligo a televisão, a família protesta e volta a ligar. Beijo a minha afilhada na testa, pouso-a no chão. Saio de casa.
Tudo seria belo se tudo não fosse tão triste.
Que este blog, não cumpra o seu lema!
Que não se alheie do mundo, pois no mundo tudo se pode passar!
Comments:
<< Home
Gostava de saber quem foi o anónimo que reclamou a minha presença... Seja quem for, desde já lhe agradeço o apelo e satisfaço esse visceral anseio.
Estimo em saber que o líder deste antro se procupa com questões humanitárias, e nada melhor para manifestar o pesar de toda a humanidade do que prolongar as férias de Natal. Eu próprio gostaria de o ter feito, mas que hei-de eu fazer? Nasci assim, desprovido do mais ténue sentimento... Encaro as vicissitudes da vida com a mesma expressão facial, seca e transparente... Eu próprio confesso que logo a seguir a ter assistido a duas autópsias, vim comer um belo bife... Enfim, podia ser pior.
Para arribar aqui a malta vou buscar o que há de melhor para levantar a moral (e não só...) Vejam o meu post...
Enviar um comentário
Estimo em saber que o líder deste antro se procupa com questões humanitárias, e nada melhor para manifestar o pesar de toda a humanidade do que prolongar as férias de Natal. Eu próprio gostaria de o ter feito, mas que hei-de eu fazer? Nasci assim, desprovido do mais ténue sentimento... Encaro as vicissitudes da vida com a mesma expressão facial, seca e transparente... Eu próprio confesso que logo a seguir a ter assistido a duas autópsias, vim comer um belo bife... Enfim, podia ser pior.
Para arribar aqui a malta vou buscar o que há de melhor para levantar a moral (e não só...) Vejam o meu post...
<< Home

