quarta-feira, janeiro 12, 2005

Foi preciso chegar ao primeiro ano da faculdade para ouvir a expressão "desmistificar o mundo". Foi numa aula de Introdução às Ciências Sociais na faculdade de Economia da Universidade de Coimbra no curso de Relações Internacionais. Logo na altura a expressão causou-me repulsa. Não tem deixado de o fazer desde então.

Anotei a frase no meu livro de apontamentos, de capa preta, como todos os meus livros de apontamentos. «Desmistificar o mundo» escrevi, e ao lado «mas alguém lhes pediu para desmisitificar o mundo?»
A aula era sobre os grandes sociólogos, como Weber e os seus compinchas. Ora parece que estes senhores olharam para o mundo, viram-no cheio de coisas arcaicas, como superstições, religião, mitos, lendas, e paixão e decidiram que tudo aquilo representava uma sociedade infantil, porque, afinal de contas eram ideias que não se baseavam na ciência, no conhecimento.
Então, quais pais dos povos por esclarecer, tomaram a iniciativa de mostrar às pessoas que tudo aquilo não passava de patetices. Os homens são todos umas criancinhas patetas, é preciso mostrar-lhes a razão e a luz.
Repito: Mas alguem lhes pediu alguma coisa?
A mera arrogância de se julgaram encarregados de esclarecer os povos enfurece-me. A estupidez de pensar que o mundo precisava de ser desmistificado entristece-me.

Ignoram estes senhores que as coisas têm alma, as pessoas têm alma. Esta não pode ser medida pela ciência, por isso deve-se, segundo eles, partir do pressuposto que não existe.
Tirando o misterioso e o belo da sociedade, roubam a própria alimentação dessa alma. A alma passa fome, adoece, morre.
Os homens da nossa sociedade têm a alma doente! É o que se diz vezes e vezes sem conta. Pudera! Desmistificaram o mundo!
Mas este problema insere-se noutro. Bastante mais grave. Sobre o qual escreverei mais tarde. Agora tenho que voltar ao trabalho, escrever sobre livros. Um dos poucos locais onde ainda é permitido haver algum mistério.


Comments:
Pois é me amigo, pois se não é verdade que tudo o que nos aparenta de perfeito se pode arrastar ao campo mítico da tarefa dos sonhos, se nesse inconsiente devir, já apelidado de móbil da nossa actuação, o ser não se esvai nas pérfidas razões de uma só vida, antes cresce e ganha cada vez mais consciência de si, do seu pensamento que vai para além da dimensão física que nos é permitida, da sua espuritualidade,... porquê infligir a morte ao que nos ampara neste processo de difícil viver, antever, enfim, saber,escolher dentre este punhado de razões que não vão parando de morrer, de se suceder...

Entretanto, lá vem um tempo por tempos se fazer acompanhar,
Lá vem quem prefere a vida privada de triviais razões e procura, se ingénuo, só procurar a vida verdadeiras emoções...
Já dizia um nosso amigo

"Não sei com que inútil dano
o amanhã me desdiz,
Pois ser feliz por engano, não é engano
é ser feliz"

ass: Zélitro
 
Meu caro Stil,

Enfim a tua companhia neste nosso blog! Bem vindo sejas!

Quanto ao tema, só um pequeno comentário. A alma não se desvanece por não utilização ou por sua, ainda que insistente, desconsideração. Ela existe em si mesma e até para além da nossa corpórea existência. Esses de quem tu falas, negam-se a si mesmos! Eles apenas desmistificaram o seu mundo, não o nosso. E "nós" não somos poucos, forçados que "somos", neste nosso tempo, a aceitar a evidente insuficiência da matéria para nos realizarmos enquanto seres duais (corpo e alma). Há quem diga, se não é até ideia (re)corrente, que este novo século será (é) o século das ciências ocultas. Agora qual o caminho que esta "remistificação" irá seguir... só o tempo o dirá. Mas é bom de ver que um novo comércio se forma e com ele novos falsos mitos, novas manipulações e novos falsos profetas.
Agora, a alma, caro amigo, essa por cá estará para assistir a tudo!

Um abraço!
 
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